Há mais de década o conceito de sustentabilidade corporativa vem evoluindo de maneira constante, tornando-se um tema cada vez mais transversal em toda a cadeia de valor das empresas. A noção de sustentabilidade ligada à compensação de impactos como algo dissociado do modelo de negócios das empresas já não é atual e os conceitos de valor compartilhado e impacto positivo tem se tornado recorrentes, ou seja, como a empresa, a partir de seu próprio negócio, pode aumentar seu impacto positivo na sociedade. Existem diversos fatores que tem puxado esta evolução, desde o aumento da análise de questões ESG (Environmental, Social and Governance) por investidores, como a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, que colocará ESG no mesmo patamar das avaliações de crédito e liquidez e a velocidade de informações (um acontecimento em uma pequena cidade pode virar notícia mundial em questão de segundos) que tem reduzido a tolerância da sociedade com problemas socio-ambientais de empresas.
Não existe mais espaço para discursos rasos, mas sim para estratégias transparentes e sólidas que possam demonstrar sua evolução, mesmo que em um horizonte de longo prazo.
A sustentabilidade corporativa e a Pandemia
Diversas pesquisas tem demonstrado que os cenários pós COVID-19 tendem a acelerar diversas questões relacionadas à sustentabilidade. A própria pandemia em si demonstrou de maneira ampla como se faz cada vez mais necessária uma visão sistêmica e interdependente das dinâmicas globais. Uma atividade ou pressão ambiental que ocorre em um país pode, sem dúvidas, afetar o restante do mundo de alguma maneira, e isto acontece também para as mudanças climáticas, temática que pós pandemia também deve ter um foco ainda mais forte.
Estratégias climáticas, emissões e energia
Neste contexto, de avanços de estratégias de sustentabilidade corporativa, temas como estratégias de carbono ou estratégias climáticas tem ganhado ainda mais espaço para demonstrar o compromisso das companhias com a sociedade e abaixo tentarei demonstrar como o avanço do uso de energias renováveis é fundamental para isto. Quando tratamos uma estratégia climática podemos abordá-la em diferentes espectros, seja de adaptação, entendendo como uma companhia se adapta às potenciais alterações ocasionadas pelas mudanças do clima (por exemplo escassez de chuva ou água), seja com ações de mitigação, buscando a redução de emissões de suas operações. Para a redução de emissões, primeiramente é necessário entender como as emissões são geradas: os protocolos internacionais separam as emissões em 3 escopos diferentes, o escopo 1, que trata de emissões diretas da companhia (sua frota própria por exemplo), o escopo 2 de emissões provenientes do consumo de energia e o escopo 3 de emissões indiretas (uso de seus produtos, viagens, cadeia de fornecimento, entre outros). Já para a redução das emissões podem ser usadas diversas frentes de atuação, geralmente priorizando em ordem a redução (eliminação ou eficiência) e posteriormente a compensação.
O uso de energias renováveis vem para reduzir de maneira brutal as emissões de CO2, podendo gerar não somente reduções de despesas como uma contribuição consistente na estratégia climática de empresas.
Compromissos voluntários
A importância da migração para energias limpas e renováveis tem se tornado tão relevante para companhias, que muitas delas adotaram compromissos públicos demonstrando sua intenção em tornar seu uso de energia 100% renovável. Compromissos como o RE100 liderado pelo The Climate Group em parceria com o CDP, a tem a missão de acelerar uma e carbono zero e já possuem mais de 240 grandes companhias aderentes. Outros compromissos como o Science Based Targets trazem para as companhias a possibilidade de se comprometer com metas de redução de carbono alinhadas à dados científicos para evitar um aquecimento global maior do que 1,5ºC e já possuem aproximadamente 1000 empresas aderentes.
Ganhos reputacionais e empresas carbono neutro (ou produtos carbono neutro) seguindo com uma estratégia climática, muitas empresas já possuem metas ou até já alcançaram o objetivo de tornar suas operações carbono neutro (como a Telefônica Vivo e Natura). Geralmente para alcançar este objetivo as empresas buscam a redução de emissões por um lado, buscando eficiências em suas operações e geralmente tornando sua energia 100% renovável, e por outro a compensação de emissões que não puderam ser eliminadas. O interessante a ser considerado é que algumas ações possibilitam redução de despesas e outras, como compensação das emissões que não podem ser anuladas (dos escopos 1 e 3) geram despesas adicionais. A redução do custo do uso de energias renováveis nos últimos anos tem possibilitado a redução de custos destas estratégias, uma vez que muitas vezes são mais baratas do que outras fontes de energia, tornando a migração para energias renováveis a ação central destas estratégias por aliar redução de emissões e de despesas.
Por fim…
Existe uma tendência de aumento da responsabilidade das companhias em relação à sustentabilidade e um dos temas neste grande espectro é não somente a sustentabilidade ligada a questões ambientais, mas também a sustentabilidade financeira. A migração para energias renováveis é neste contexto uma ótima oportunidade de avanço nestas duas frentes, possibilitando melhorias em relação às emissões de gases de efeito estufa relacionadas às suas operações e com fortes possibilidades de geração de redução de despesas.
Escrito por: João Zeni
Diretor de Sustentabilidade (América Latina) na Electrolux
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